O Papa Francisco, como parece gostar de ser tratado, surpreendeu mais uma vez na intervenção de despedida da visita aos Estados Unidos da América com algumas declarações engraçadas a propósito da família. Encantou os presentes e o mundo referindo-se a Jesus que nunca foi casado, às sogras e aos problemas domésticos próprios das famílias.

Tudo isto para reforçar a importância da família na sociedade e no mundo.

Nunca falei com o Papa Francisco, nem nenhum elemento que conheça da Associação Amigos da Grande Idade, mas há dois anos defendemos, como hoje, que um dos principais fatores para o desenvolvimento social assenta na reconstrução da família tradicional, voltando a aprofundar as suas mais profundas solidariedades e os seus mais valiosos valores. Ficámos até surpreendidos numa declaração do mesmo Papa Francisco que pouco cautelosamente referiu que era no seio da família que existiam mais maus tratos e mais problemas com as pessoas idosas e as crianças. Declaração pouco cautelosa porque serve os interesses daqueles que dizendo que defendem a família vivem à custa da sua desintegração e da sua incapacidade de responder às necessidades de pessoas mais vulneráveis.

Na verdade tarda em que no nosso país se entenda que é direito fundamental das famílias poderem receber as comparticipações sociais do Estado e estas deixarem de depender da institucionalização em entidades que continuam a não ser avaliadas e cujos indicadores de desempenham deixam muito a desejar.

Se pensarmos na necessidade de valorizar, manter e aprofundar a família e as suas tradicionais relações, logo chegamos à conclusão que o modelo de comparticipação da segurança social é contra os direitos fundamentais e contra esse princípio da família. A comparticipação para uma pessoa idosa continua a ser dada exclusivamente à instituição social onde a pessoa é institucionalizada, continuando a perguntar qual a razão que existe para não a atribuir à pessoa diretamente ou perante a incapacidade da mesma ao seu representante legalmente constituído?

Acompanhemos o Papa Francisco nesta reflexão que coloca a família no topo da pirâmide do desenvolvimento social. Mas sejamos coerentes e dessa forma iniciemos uma defesa global da família que implica uma alteração substancial do modelo de financiamento social que temos.

Que todos entendam que o caminho correto é o apoio á família e não o apoio às instituições sociais.

 

Rui Fontes (rmsfontes@sapo.pt)

Coordenador de Lar de Idosos

Presidente da Associação Amigos da Grande Idade