Dia Internacional do Idoso
Chega o Dia Internacional do Idoso e, inevitavelmente, voltamos a olhar para aqueles que, tantas vezes, são esquecidos na azáfama do quotidiano: os nossos pais, os nossos avós, os nossos mestres de vida.
Trabalhar com pessoas idosas há tantos anos ensinou-me algo fundamental o envelhecimento é, acima de tudo, uma história de relações humanas. São os olhares, as mãos que tremem, as memórias partilhadas e a necessidade de ser ouvido que dão sentido a cada dia. E, ainda assim, continuamos a viver numa sociedade que fala muito sobre os idosos, mas que, tantas vezes, os ouve pouco.
Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa. Este facto, por si só, deveria ser suficiente para colocar o envelhecimento no centro das políticas públicas e, em especial, das políticas locais. As autarquias têm um papel decisivo na forma como cuidamos, acolhemos e incluímos as pessoas idosas. São os municípios que podem transformar realidades, criar respostas inovadoras e dar voz a quem vive, tantas vezes, em silêncio.
Mas para isso é preciso mais do que boas intenções. É preciso visão, compromisso e coragem política.
É preciso compreender que envelhecer com dignidade não se resume a garantir um lar ou uma cama hospitalar. É sobre promover autonomia, criar redes de proximidade, valorizar os cuidadores e respeitar o tempo de cada pessoa. É sobre dar oportunidades para continuar a participar, a decidir, a pertencer.
Hoje, quando atravessamos um novo ciclo de eleições autárquicas, acredito que é o momento certo para exigir um compromisso sério com o envelhecimento digno e ativo. Precisamos de autarquias que olhem para o idoso não como um custo, mas como um investimento. Que apostem em políticas intergeracionais, em serviços de proximidade, em habitação adaptada, em mobilidade acessível e em espaços de convivência onde a solidão deixe de ser regra e passe a ser exceção.
Trabalhar com idosos ensinou-me que cada rugas conta uma história, que cada silêncio traz uma lição e que cada sorriso conquistado vale mais do que qualquer estatística.
O Dia Internacional do Idoso não deve ser apenas um marco no calendário. Deve ser um apelo à consciência coletiva, uma oportunidade para pensarmos se estamos a construir a sociedade onde queremos envelhecer.
E não posso deixar de pensar na minha querida avó Teresa mulher de força e ternura, que me ensinou o valor da paciência, da simplicidade e do amor genuíno. É nela, e em tantos outros como ela, que encontro o verdadeiro significado da palavra dignidade. Pessoas que viveram com pouco, deram muito e, mesmo no silêncio, deixaram uma herança de humanidade que nenhuma geração deveria esquecer.O Dia Internacional do Idoso não deve ser apenas um marco no calendário. Deve ser um apelo à consciência coletiva, uma oportunidade para pensarmos se estamos a construir a sociedade onde queremos envelhecer.Porque, mais cedo ou mais tarde, todos seremos o “idoso” de alguém.
E o modo como cuidamos hoje dos nossos idosos é, inevitavelmente, o espelho do futuro que nos espera.
João Pedro Sá





