Envelhecimento: Um Desafio Estrutural que Exige Respostas Qualificadas e Sustentadas

Portugal é hoje um dos países mais envelhecidos da Europa e do mundo. O aumento da esperança média de vida, conjugado com a persistente baixa taxa de natalidade, configura um profundo reordenamento demográfico que exige respostas estruturadas e sustentadas. O envelhecimento populacional não é, em si mesmo, um problema, é antes uma das grandes conquistas civilizacionais. O verdadeiro problema reside, em nosso entender, na ausência de políticas públicas à altura dos desafios que essa nova realidade impõe.

Entre esses desafios destacam-se: o aumento das situações de dependência funcional e de solidão, o risco de exclusão social e institucionalização, o subfinanciamento das respostas sociais e de saúde, a fragilidade da condição dos cuidadores informais, a escassez de profissionais especializados e a persistência de visões estigmatizantes sobre o envelhecimento. Este panorama reclama medidas intersectoriais e integradas que promovam a autonomia, a participação e os direitos das pessoas ao longo do curso da vida.

Neste contexto, é imperioso qualificar todos os que intervêm nesta área. Não basta querer, é preciso saber. O cuidado ético e competente exige mais do que boa vontade ou experiência empírica. Exige conhecimento técnico, sensibilidade relacional e formação especializada, tanto na fase inicial como ao longo do exercício profissional. Cuidadores informais, auxiliares, técnicos e demais agentes devem ter acesso a formação contínua, supervisionada, centrada na pessoa e fundamentada nos princípios dos direitos humanos e da justiça social. A supervisão profissional, enquanto espaço privilegiado de análise crítica, suporte técnico e desenvolvimento ético, é igualmente essencial para assegurar práticas reflexivas, proteger quem cuida e promover respostas de qualidade.

A ausência de formação e de supervisão ou a sua desvalorização fragiliza a intervenção, expondo tanto cuidadores como pessoas cuidadas a riscos éticos e relacionais com custos humanos muito elevados.

Investir na capacitação de quem cuida é, afinal, investir na construção de uma sociedade mais justa, solidária e preparada para o futuro. É reconhecer que o cuidado não é um ato espontâneo, mas uma prática complexa, que exige competência, responsabilidade e suporte institucional. Porque envelhecer não é um problema — é uma conquista coletiva. O verdadeiro desafio está em saber cuidar dessa conquista com competência e compromisso, assegurando que cada pessoa possa envelhecer com dignidade, sentido e pertença.

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