Em 2009, reunindo um grupo de pessoas diretamente ligadas ao trabalho que estava a ser desenvolvido num Lar de Idosos, foi constituída a Associação Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento.
Estávamos, quase todos, num período de deslumbramento, tal era o êxito que algumas iniciativas desenvolvidas no interior de um lar de idosos tinham atingido, projetando-nos para um nível de inovação e qualidade que na altura era completamente desconhecido e mesmo estranho. Todas as iniciativas tinham um pilar principal: determinar indicadores para avaliação do trabalho que se realizava.
Avaliaram-se o número de quedas, o número de ulceras de pressão, o número de recursos à urgência hospitalar, o número de dias de internamento em Hospitais e os custos e as receitas do Lar de idosos. Compararam-se esses números que eram o resultado da intervenção em dois anos feita num Lar com os resultados que existiam dos últimos dez anos de atividade desse Lar.
Concluiu-se de imediato que os resultados eram completamente surpreendentes.
Diminuíram-se em mais de 70% o número de ulceras de pressão, em cerca de 50% o número de quedas, em praticamente 90% o número de recursos às urgências hospitalares e dos dias de internamento em Hospital. Mais que isso: aumentaram as receitas com introdução de novas ofertas e diminuíram significativamente os custos, mesmo sem autonomia funcional nas decisões mais importantes, no planeamento e na estratégia da organização.
Todo o processo está devidamente documentado e talvez neste local de opinião possa vir a ser descrito mas será, como se entende, muito demorado pelo pormenor que encerra cada uma das intervenções em cada um dos indicadores. Mas, no fundo, o Curso de Gestão Organizacional de Lares de Idosos e Casas de Repouso, que a Associação passou a desenvolver, descreve, na maior parte dos casos, os processos introduzidos.
O resultado desta intervenção projetou-nos, primeiro para os fóruns destinados à saúde, na medida em que inicialmente atribuímos este êxito à gestão feita num lar centrada no Enfermeiro. Isso fez-nos vencer vários concursos de pósteres em vários congressos nacionais. Em segundo projetou-nos para a investigação, tendo sido apadrinhados pela Escola Nacional de Saúde Publica e pelo ISCTE de uma forma informal, é certo, mas com toda a relevância que foi atribuída a esse acontecimento. Em terceiro abriu-nos a porta do envelhecimento, demonstrando que é possível transformar os lares de idosos, envelhecer melhor e conseguir oferecer o cuidado mais essencial e o serviço mais fundamental: contribuir para a felicidade das pessoas idosas.
Rapidamente todo este trabalho teve repercussões e replicou-se em vários projetos: numa tese de mestrado que, pela primeira vez em Portugal, determinava os indicadores para avaliar a qualidade do desempenho do enfermeiro em lares de idosos, num projeto aprovado e publicado no Banco Europeu de Inovação em Saúde, na constituição da Associação Amigos da Grande Idade e na promoção do Curso de Gestão Organizacional de Lares de Casas de Repouso que ainda hoje se desenvolve e já formou mais de 1000 pessoas.
A Associação Amigos da Grande Idade veio a ultrapassar todas as expectativas. Quando nasceu teve dois princípios fundamentais: não ser IPSS por não aceitar as obrigações decorrentes desse enquadramento que obrigam a estatutos feitos por corporações com interesses duvidosos e que pretendem apenas viver á custa dos dinheiros públicos e do financiamento descontrolado e muitas vezes escandaloso e desconstruir o discurso dos pobrezinhos, dos carenciados, fugindo à batalha que é a caça aos mais necessitados. A Associação impôs-se como uma entidade com um discurso diferente, revolucionário, visionário e provocador, colocando tudo em questão mesmo que isso colocasse a própria Associação em dificuldades de desenvolvimento.
Partimos do princípio que viver mais anos é uma conquista da humanidade e não deve ser causa de indignidade e razão para justificar distribuidores de peixe que se recusam a fornecer canas de pesca.
Com este discurso e com a convicção de quem pode mudar tudo ou pelo menos contribuir para a mudança conseguimos marcar presença relevante na construção de um envelhecimento mais realizado, mais funcional e mais feliz. Tivemos a oportunidade de atingir alguns fóruns de discussão das questões referentes ao envelhecimento. Chegámos às principais personalidades que discutem estas questões encontrando muita motivação mas também muita resignação e muita confusão. Percebemos cedo que tudo estava para discutir e que tudo necessitava de ser colocado em causa.
Construímos sozinhos, sem qualquer apoio formal ou institucional um dos principais portais de divulgação de opinião, de influência, de estudo e conhecimento. Lançamos uma revista científica sem paranoias próprias do conhecimento superior e inquestionável dando oportunidade a todos, mesmo aos textos mais humildes e simples de chegarem à luz do dia. Uma revista hoje consultada por cerca de 400 pessoas diariamente. Mantivemos uma intensa atividade de formação com o grande êxito do Curso de Gestão Organizacional de Lares de Idosos falando numa linguagem prática assente no conhecimento e na evidencia cientifica mas relacionada sempre com aquilo que necessitam que façamos no terreno, no trabalho diário dentro e fora das instituições. Promovemos formação superior através de Pós Graduações que coordenamos operacionalmente e cientificamente em parceria com entidades de ensino superior. Organizámos dois dos maiores congressos feitos em Portugal sobre envelhecimento com personalidades de todos os quadrantes científicos, políticos, económicos colocando a refletir muitas das vozes nacionais mais conhecidas sobre aquilo que é hoje considerada a maior revolução demográfica da história. Pelo meio participamos em centenas de eventos levando e defendendo sempre a nossa independente opinião, promovemos dezenas de outros eventos no modelo de workshops, jornadas científicas, seminários e reuniões de trabalho. Visitámos periodicamente a Assembleia da Republica encontrando interlocutores em todas as forças politicas ali representadas, editámos muitas centenas de textos, dois livros e participámos noutros tantos de outros autores. Chegámos à Assembleia da República, apresentando formalmente as Recomendações para a Longevidade com a participação da Comissão Social, da Presidência da Assembleia e de todas as forças politicas ali representadas.
Sem querer o trabalho que se iniciou em 2003 num Lar de Idosos lançou esta associação que agora abre também esta oportunidade de todos darem a sua opinião e a verem publicada num portal com mais de 600 visitas diárias em Portugal e no Estrangeiro.
Mas acima de tudo e algo que nunca esquecemos e nunca deixámos de colocar em primeiro lugar, estamos orgulhosos de todo este trabalho que se iniciou com a intervenção num Lar de idosos que hoje marca a diferença e se distingue no país, contribuiu de forma exemplar para que os residentes, trabalhadores e colaboradores desse lar sejam mais felizes, mais realizados e mais convictos de que podemos viver mais anos e melhor durante esses anos. Porque para além de todo o trabalho que possamos realizar em entidades, instituições, academias, institutos, universidades e noutros locais devemos sempre desejar que isso se reflita na qualidade de vida das pessoas idosas que são a nossa base de reflexão e a justificação para os serviços, ofertas e cuidados que promovemos.
Este texto inaugura o meu humilde espaço de opinião no portal da Associação Amigos da Grande Idade.
Rui Fontes (rmsfontes@sapo.pt)
Coordenador de Lar de Idosos
Presidente da Associação Amigos da Grande Idade