“Entre os méritos do homem e da mulher, considerados no seu justo valor, não
há diferenças, ou pelo menos não apresentam as diferenças que a tradição nos
ensinou. Para a mulher, como para o homem, o gosto de viver é o segredo da
felicidade e do bem-estar”
Bertrand Russel
A Felicidade Interna Bruta (FIB), por analogia com o Produto Interno Bruto (PIB) tem ocupado largo espaço nos media, especialmente depois de Sarkozy, em Fevereiro de 2008, ter criado uma comissão para estudar o conceito.
Essa comissão, presidida por dois prémios Nobel de grande prestígio: Joseph Stiglitz, da Universidade de Columbia, ex-director do Banco Mundial e Amartya Sen, da Universidade de Harvard, e por JeanPaul Fitoussi, director de pesquisa do OFCE e professor emérito do IEP em Paris, terem apresentado o seu relatório com doze recomendações. Como referem no seu relatório (disponível em http://stiglitz-sen-fitoussi.fr/en/index.htm) os autores notam que os nossos sistemas de medida focam-se muito mais na produção económica do que no bem-estar das pessoas. A mudança de ênfase do PIB para o bem-estar não significa, contudo, que se abandone o primeiro, pois a informação em que se baseia continua a ser importante, nomeadamente no que se refere à monitorização da economia. No entanto, essa informação é insuficiente, tornando-se necessário recolher informação complementar centrada no bem-estar sustentado das pessoas. “Há várias dimensões do bem-estar, mas um bom começo é a medição do bem-estar material ou padrões de vida. Tal sistema não deve apenas medir os níveis médios de bem estar dentro de uma dada comunidade, e como mudam ao longo do tempo, mas também documentar a diversidade de experiências dos povos e as ligações entre as várias dimensões da vida das pessoas”. Nas suas recomendações propõem que a avaliação do bem-estar material se centre no rendimento e no consumo em vez da produção, devendo contemplar medidas que permitam melhorar a saúde, a educação e o meio ambiente, através de indicadores robustos e confiáveis capazes de medir as conexões sociais, a participação política e a insegurança e avaliar desigualdades de uma forma global.
Nesta perspectiva, a distribuição do rendimento torna-se mais importante do que o rendimento médio per capita. Em vez de nos focarmos no PIB, devemos focar-nos na FIB (Felicidade Interna Bruta), considerada como um indicador de bem-estar social, que exprime, num dado país, o “stock” de felicidade das pessoas, cuja busca, como está inscrito na Constituição Americana, deve nortear os objectivos da governação. Consideram que a felicidade é uma expressão do bem-estar subjectivo, conceito multidimensional, assente nas seguintes dimensões-chave, que devem ser consideradas em simultâneo: i) Padrões materiais de vida (rendimento, consumo, e riqueza), ii) Saúde, iii) Educação, iv) Actividades pessoais, incluindo o trabalho, v) Voz política e governação, vi) Conexões e relações sociais, vii). Ambiente (condições actuais e futuras) e viii) Segurança de natureza económica e física.
O Índice de Felicidade Interna Bruta , construído com base nestas dimensões2, apresenta a seguinte distribuição na Europa:
Felicidade Interna Bruta na Europa
Fonte: European Social Survey, 2008
Numa escala estandardizada em que o valor 0 significa a média do conjunto, os países Escandinavos e a Europa do Centro, com excepção da França registam valores médios superiores à média, enquanto os países Pós-comunistas e Portugal registam valores médios inferiores. Saliente-se ainda que, a exemplo do que acontece com a distribuição do PIB, os países “mais felizes” são também os que registam as menores desigualdades na distribuição da FIB:
Felicidade Interna Bruta na Europa
(média e desvio-padrão)
Fonte: European Social Survey, 2008
Portugal situa-se no quadrante dos países “menos felizes” e maior desigualdade na distribuição da FIB. Note-se que a nossa vizinha Espanha, com quem gostamos de nos comparar, se situa no quadrante oposto: “mais felizes” e “menos desiguais”. Aproveitem este período de férias e sejam felizes, busquem a vossa felicidade.
Publicada em 04-07-2015 | Diário as beiras – Opinião, pág. 15 (http://www.asbeiras.pt/Edicao_Diaria/diario.php?Link=4025bcff909b25651b6095f15f8c7150%2624567%26CLT0%26TMP10000909%2620150815)