“Cada um é tão infeliz quanto acredita sê-lo”
Séneca
Como referi na primeira destas crónicas, falar de felicidade, no seu sentido mais amplo, é falar de bem-estar subjectivo, enquanto tradutor das respostas emocionais das pessoas em domínios como a satisfação com a vida, a saúde e as relações interpessoais, bem como as avaliações que fazem sobre a sociedade e a governação. Ou seja, para entendermos a avaliação que os sujeitos fazem do seu nível de bem-estar, é importante saber como é que avaliam as condições sociais subjacentes, que condicionam o seu espaço de realização pessoal e logo, a sua felicidade. Como disse Marx: Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que lhe determina a consciência. Noutras palavras, somos aquilo que podemos ser, sem perder de vista que não há determinismos sociais, apenas condicionamentos. É de pequenino que se torce o destino, como canta Sérgio Godinho.
Parece-nos, por conseguinte, interessante perceber quais são as principais diferenças
entre os portugueses que se consideram “infelizes” e “muito felizes”2, no que se refere ao conforto com que vivem, saúde, satisfação com a vida e optimismo. Note-se que, como se observa na figura seguinte, apenas 11,2% dos portugueses se consideram “infelizes”, enquanto mais de metade (56,7%) se consideram “muito felizes”.
Felicidade na Europa
Quem são e onde vivem?
Comparando os “infelizes” com os “muito felizes”, as diferenças são evidente e claramente favoráveis aos últimos.
Os “mais felizes” são predominantemente: homens, mais novos e mais escolarizados, casados ou em união de facto, vivem no Norte, com algum conforto e boa saúde. Estão muito satisfeitos com a vida e são optimistas.
Nos “infelizes” predominam as mulheres, os mais velhos e menos escolarizados, viúvos, a viverem o Algarve, com dificuldades económicas e saúde razoável. Estão insatisfeitos com a vida e são pessimistas.
A conclusão é evidente, ser feliz compensa!
Sejam felizes e considerem a busca da felicidade o principal desígnio da vossa vida.
Rui Brites 1
Publicada em 06-06-2016 | Diário as Beiras – Opinião, pág 22
http://www.asbeiras.pt/2016/06/opiniao-coluna-da-felicidade-ser-feliz-pode-dar-trabalho-mas-compensa/
1 Sociólogo e professor universitário (rui.brites@outlook.com)
2 0 a 4 e 7 a 10, respectivamente, na escala original: 0=extremamente infeliz; 10=extremamente feliz.