A Direção da Associação dos Amigos da Grande Idade, comemora o Dia Internacional do Envelhecimento de 2014, com uma reflexão, anotando as 7 Obras de Misericórdia do Mestre Pintor Italiano Caravaggio.

Se observamos ao pormenor veremos que o Pintor poderia ter vivido e retratado a atualidade Nacional, onde milita um crescente ressentimento em relação às pessoas da Grande Idade. As Obras de Misericórdia, são ligadas à compaixão que sentimos em dar a felicidade aos mais fracos. Com este sentimento o quadro descreve esta necessidade patética da geração dos Adultos, de poder incomensurável descreverem, legislarem e regulamentarem ao nível da sociedade a felicidade dos mais idosos em Portugal. As sete obras representadas no quadro permitem perceber este sentimento de felicidade, que nos impede de praticar o Mal, numa fronteira muito ténue com o Bem: Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a quem tem sede; Vestir os nus; Visitar os prisioneiros; Dar pousada aos peregrinos; Visitar e atender os doentes; Enterrar os mortos.

Nos seculos 17 a 14 a. C. “Zoroastro” profeta Iraniano, criou uma teoria que se baseava entre o Bem e o Mal, e definiu a felicidade como sendo: “Um lugar ao abrigo do fogo e dos animais ferozes; mulher e filhos; e rebanhos de gado”.

É nesta perspetiva que continuamos a trabalhar em Portugal? Quais os cuidados que prestamos e os serviços que dispomos para as pessoas idosas?

Respondemos às necessidades básicas, impedindo ou atenuando o Mal, com a perceção que estamos a fazer o Bem e logo as obras da misericórdia. Vejamos o sentimento de felicidade atual:

Pergunta da sociedade – És feliz, velho português?Idoso – Responde – Muito.

Pergunta da sociedade – Porquê?

Idoso – Responde – Porque não me batem, dão-me comer e, de vez em quando, lavam-me, tenho roupa, onde dormir.

Pergunta da sociedade – Mas está descontente, tudo fazemos para vos ajudar, faltamos algo? Amor?

Uma Idosa Portuguesa – Responde – O amor!!! Fui eu que vos ensinei, fui eu que vos sustentei, fui eu que vos mudei as fraldas, que vos criei, que vos dei pão, que me sacrifiquei!!!Lembrei-vos ou já esqueces-te o que é velho, que desprezais depois dos 7 0 anos, na legislação? Que entendeis falar num representante com uma legislação ambígua, com uma desproteção e até inferioridade em relação aos animais irracionais! É assim que transmites aos teus filhos a forma como tratais os vossos pais?

Pois é. Criámos um modelo maximalista: nos lares, nos centros de dia ou nos domicílios, na própria legislação ao longo de décadas, oferecemos segurança, comida e higiene. Base da Pirâmide mas sem fazer qualquer esforço para aumentarmos a oferta. “Consciência da sociedade – Para quem é, bacalhau basta!”

Jesus Cristo defendeu o Amor como elemento fundamental para atingir a harmonia em todos os níveis, incluindo a felicidade individual. Ao modelo: levanta, come e dorme, acrescentámos o Amor, nem sempre utilizável, mas sempre justificativo da falta de outros serviços ou cuidados. Bem dizia Mateus:“Bem-aventurados os humildes de espírito porque deles é o reino dos Céus”. Desenvolvemos a nossa atividade na área do envelhecimento num modelo assente numa tradição conservadora, primária, assistencialista e caritativa. O que nos tem levado a não responder a qualquer nível de exigência e a excluir a competitividade qualitativa. Deixámos passar o positivismo que baseava a felicidade no altruísmo e na solidariedade. É certo que aproveitámos algo do marxismo que baseia a felicidade na igualdade e ai, sim, conseguimos que o nosso modelo considere todos os velhos, pessoas com mais de 65 anos e com necessidades iguais. Não ligámos á psicanálise que baseia a felicidade no princípio do prazer e esse tentamos afastá-lo o mais possível da nossa prática diária com pessoas idosas. Finalmente não aproveitámos a psicologia positiva que baseia a felicidade nas emoções positivas.

NESTA COMEMORAÇÕES PERGUNTAMOS?

Mas o que fizeram as pessoas idosas para este ressentimento da sociedade em relação a elas? Gastam muito dinheiro? Não trabalham e reformam-se cedo de mais? Desequilibram completamente a sustentabilidade da sociedade? São maus, chatos, complicados, exigentes?

Não. Os idosos tornaram-se um problema para uma sociedade que ainda não percebeu que ao contrário do que se apregoa eles não representam um peso para a sociedade mas a sociedade é que tem representa um peso para os idosos.

Felizmente noutras culturas a pessoa idosa é a protagonista da comunidade pelo seu conhecimento e experiencia e pela dádiva que essas comunidades têm para com quem as desenvolveu.

Até agora não temos entendido o envelhecimento, não percebemos as extraordinárias vantagens de vivermos numa sociedade constituída por muitas pessoas que podem contribuir para o seu desenvolvimento e o que temos agora se deve aos seus esforços e trabalho, á sua procura constante de inovação e desenvolvimento.

Mas não vamos conseguir manter por muito mais tempo esta atitude e comportamento em relação às pessoas idosas. Elas próprias vão ajudar-nos a alterármos o paradigma, tornando- se, em breve os atores principais e os decisores que necessitamos.

Estamos a caminho da sociedade e da economia do Bem-estar. Temos ai os baby Bommers que não se vão deixar isolar/ficar de lado quando envelhecerem.

Nesta nova sociedade, na qual pretendemos construir a felicidade coletiva é um dos indicadores económicos tão importante como PIB e a inflação. E para atingirmos a felicidade coletiva precisamos de uma sociedade inclusiva que não descrimine aquilo que hoje já representa quase metade da população (pessoas com mais de 65 anos).

É esta a alteração do paradigma: de uma oferta de cuidados e serviços assistencialista e caritativa vamos passar a uma oferta de cuidados e serviços na procura da felicidade, desconstruindo preconceitos, derrubando estigmas e ultrapassando descriminações. Tudo em função da idade como atualmente acontece.

Esta procura da felicidade coletiva passa por um obrigação e envolvimento de todos os cidadãos, apelando a um comportamento de exercício de cidadania, no modelo de dividir o cobertor para que possa cobrir todos.

Mas são também os governos os responsáveis indiretos por este caminho, sendo os cidadãos os responsáveis diretos pelo exercício do seu poder de votação, de eleição. No conjunto de todas as vontades teremos, estamos certos, alterações fundamentais da legislação, preocupações mais adequadas sobre as necessidades das pessoas mais velhas e

comportamentos mais ajustados no exercício de funções na área social com a prestação dos cuidados e a oferta dos serviços.

Temos pois de mudar o modelo, de profissionalizar os nossos serviços e de educar a sociedade, PARA QUE ESTA SOCIEDADE NÃO SEJA UM PESO PARA OS IDOSOS EM PORTUGAL.

Que neste dia INTERNACIONAL DA PESSOA IDOSA se comece um caminho diferente em que todos tenham consciência que envelhecer em Portugal no atual estado das coisas é fazer o caminho misericordioso do Calvário.

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