Mais de um terço dos doentes que deram entrada na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) em 2009 morreu no primeiro mês de internamento. Os números são do relatório anual da rede que indica também que a maioria das pessoas apoiadas pela RNCCI são idosas, pobres, com baixa escolaridade e “pouca saúde”.
A versão integral do Relatório pode ser consultada aqui.
Segundo o documento, registaram-se 2779 óbitos, o que representa 13% dos utentes assistidos e 18% (9,1% em 2008) do total de doentes que saíram da rede em 2009.
Considerando todos os óbitos, 17% ocorrem nos primeiros 10 dias de internamento (17,8% em 2008) e 36% no primeiro mês (38,8 % em 2008).
Mesmo excluindo as unidades de cuidados paliativos, em que a mortalidade é muito superior, há uma percentagem de 11% de óbitos nos primeiros 10 dias de internamento e 29 % no primeiro mês.
Segundo a coordenadora da RNCCI, “ainda existem muitos óbitos nas estruturas de internamento da rede”, apontando como uma das razões para esta situação haver pessoas que “chegam à rede em situações extremamente tardias, em que já quase nada se consegue fazer”.
“As pessoas são referenciadas para a rede numa situação já muito precária e sem o mínimo de avaliação do local para onde deviam ser referenciadas. Nós temos pessoas a serem referenciadas para convalescença, que também têm um elevado número de óbitos”, sustentou.
Por outro lado, o tempo que demoram nos hospitais sem serem referenciados também pode contribuir para esta situação, acrescentou.
A percentagem de utentes em Unidades de Cuidados Paliativos em 2008 foi de cinco % do total de assistidos (645) na rede e em 2009 foi de 10 % (2018 assistidos). As mortes nestas unidades em 2009 correspondem a 34 % do total dos óbitos ocorridos na RNCCI.
“Na rede não tratamos doenças, tratamos pessoas a quem queremos reabilitar”, disse a coordenadora, que acrescentou: “As pessoas têm recorrido cada vez mais às urgências quando deviam ter um médico de família que as mantivesse estáveis e equipas no domicílio que as acompanhassem”.
Inês Guerreiro defendeu que se deve evitar a ida aos hospitais: “Estudos científicos revelam que cada internamento hospitalar leva a que uma pessoa idosa perca entre 25 a 55% das suas capacidades”.
“Isto leva-nos a concluir que cada pessoa que sai do hospital sai doente”, disse, comentando que, no caso das pessoas idosas, “um dia a mais no hospital é um dia a menos na vertical”.
O relatório indica que a família constitui o principal suporte dos utentes referenciados para a rede (52 % em 2009 e 67 % em 2008), seguido da ajuda de técnicos de saúde (11 % em 2009 contra cinco % em 2008).
A ajuda domiciliária, que representava 24% em 2008, é agora 11%. Em 2008, os utentes apoiados em Centro de Dia representavam 10% e eram metade em 2009.
Os principais tipos de apoio estão relacionados com a alimentação, a higiene pessoal, a roupa de casa e os medicamentos.
O número de utentes assistidos em 2009, comparativamente com 2008, cresceu de 13 457 para 20 692, representando um acréscimo de 54%.
Aumento dos utentes com mais de 80 anos
Segundo Inês Guerreiro, 80,5% dos utentes referenciados na rede têm mais de 65 anos e 42% mais de 80 anos. A maior parte vive com a família, que, muitas vezes, também tem uma idade avançada, e 21% vivem sozinhos.
O relatório da RNCCI de 2009, a que a agência Lusa teve acesso, indica que houve um aumento dos utentes com mais de 80 anos no ano passado (39 por cento em 2008), o que pressupõe “situações de menor autonomia e de maior dificuldade de recuperação”.
Inês Guerreiro adiantou que 35% das pessoas atendidas em 2009 eram analfabetas e 55% tinham apenas seis anos de escolaridade.
Lusa