Tomou posse o Professor Marcelo Rebelo de Sousa como o 20º Presidente da República Portuguesa.
O atual Presidente é o primeiro cidadão a ocupar este cargo que pertence à geração Baby Boomer, a geração que mudou o Mundo e que introduziu as maiores alterações nas sociedades e que se caracterizou como a “onda de choque”.
A Associação Amigos da Grande Idade há muito que espera que os homens e as mulheres desta geração comecem definitivamente a fazer a diferença e recentemente alertou para o fenómeno de que esta geração tinha começado a completar os 65 anos e era a nova geração de pessoas idosas. Substitui uma geração designada por silenciosa e que permitiu que construíssemos modelos desrespeitosos, sem que os seus mais fundamentais direitos fossem assegurados.
A geração baby Boomer nasceu entre 1946 e 1964 e foi ela que introduziu os grandes sistemas de segurança social no mundo, os direitos do trabalho, a libertação da mulher e a conquista da igualdade, os mais desenvolvidos sistemas democráticos, a tecnologia e que lutou pelo direito à felicidade. Uma geração extraordinariamente empreendedora, ambiciosa mas solidária. Os baby boomers estão associados à rejeição ou redefinição dos valores tradicionais.
Renovamos pois a esperança de termos nos próximos anos um Presidente capaz de entender o fenómeno do envelhecimento e de contribuir para uma nova abordagem.
O professor Marcelo Rebelo de Sousa colaborou com a Associação Amigos da Grande Idade, ainda que forma indireta quando da realização do Congresso nacional da Grande Idade, escrevendo um texto para uma publicação da Associação que temos agora oportunidade de voltar a divulgar no nosso portal.
Desejamos pois que o novo Presidente marque a história nesta área que tem sido tão descriminada e que quando é tratada serve apenas interesses corporativos ou mediáticos para atingir outros fins.
Queremos envelhecer no nosso país mas com modelos de intervenção diferentes, mais justos, ajustados e que contribuam para a nossa felicidade e não para a nossa imobilidade e dependência.
Vamos ter anos para incomodar o novo Presidente da República e a Associação não irá perder essa oportunidade porque sabemos que estamos a incomodar uma das pessoas que pode transformar o envelhecimento em Portugal.
Transcrevemos aqui o texto oferecido à Associação Amigos da Grande Idade pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa quando da realização do Congresso Nacional da Grande Idade:

1- Portugal está a envelhecer? Parece óbvio. Basta olhar para os indicadores económicos, sociais e culturais.
A Europa, sobretudo a Europa Ocidental, está, ela própria, em alguns casos, mais velha? Embora com diferenças nacionais não desprezíveis, pode afirmar-se que sim, que tem experimentado uma tendência de envelhecimento, sobretudo numa apreciação de muito longo prazo e ponderando atitudes, reações e mecanismos de ajustamento institucional.
O mundo que emerge, de forma mais visível nas últimas duas ou três décadas, apresenta sinais opostos aos enunciados? A leitura mais comum confirma essa evolução, ainda que as medidas e as justificações sejam muito variadas.

2- Neste contexto, há quatro ou cinco reflexões que se me afiguram pertinentes e abonam a visão de quantos organizaram o Congresso de 2013 e promovem a presente edição.

Primeira: mais vale prevenir que remediar, o que significa que as questões sociais melhor se enfrentam com antecipações do que com remédios ou remendos de emergência.

Segunda: entre nós, tempo demasiado andámos alheios a esta problemática, deixando correr os anos de aparente euforia, para termos agora de nos sobressaltar em tempos de privação.

Terceira: em rigor, nenhum dos principais agentes políticos e sociais passa esta questão à frente das respeitantes aos sectores mais mobilizados e mais intervenientes da comunidade, o que implica serem os mais idosos um exército de reserva de sacrifício e de indiferença por vezes chocante para os poderes públicos, sabendo como sabem a sua vulnerabilidade e o seu escasso acesso à arena do debate cívico.

Quarta: só que essa postura, fácil, alimenta processos cumulativos de mais sacrifício igual a maior dependência, maior dependência igual a mais sacrifício, e assim sucessivamente, até se atingirem patamares de manifesta violação da dignidade do valor ético e constitucional fundamental da dignidade da pessoa humana.

Quinta: quando se atingem tais patamares, ou se fica perto deles, torna-se dificílimo inverter políticas ou mesmo encontrar remédios ou remendos que comportem o regresso ao respeito do valor questionado e criem dinamismos sociais enquanto se põe de pé e produz efeito uma política consistente de natalidade.
Até porque-ponto crucial-não há política credível de natalidade que possa assentar ou coabitar com políticas de esquecimento ou sacrifício sistemático dos mais idosos. Não há pior motivação para a natalidade do que o exemplo da vida abaixo de padrões minimamente aceitáveis por parte dos mais velhos. Cada potencial progenitor facilmente imaginará a indiferença com que a sociedade o tratará daí a umas décadas-cada vez mais curtas, atendendo à elevação da idade da primeira paternidade ou maternidade- olhando para o descaso para não dizer sensação de peso morto com que a mesma sociedade já trata, no presente, os que, a seu ver, estão a viver tempo demais.

3- Estas breves reflexões atestam a importância da iniciativa ora divulgada e impõem muitas mais, no mesmo sentido.
Pode parecer clamar no deserto. Mas, como a água em pedra dura- assegura o nosso povo-tanto dá até que fura…