Setúbal e as suas gentes têm, desde sempre, uma relação profundamente afectiva com o mar. A cidade tem, ao longo dos séculos, sido alimentada por este inesgotável recurso que, não raras vezes, maltratou e desprezou.
Fonte de inspiração e de lazer, mas também fonte de desenvolvimento económico e social, o mar que aqui se une com o rio Sado continua, porém, demasiado longe dos cidadãos que dele querem fruir, em pleno respeito pelas suas necessidades e caprichos. A cidade, todos o sabemos, cresceu sempre de costas voltadas para o mar e o seu desenvolvimento económico implicou, quase sempre, a limitação do acesso dos cidadãos a fatias cada vez maiores da extensa frente ribeirinha. Obviamente, a forma como se cresceu no passado descende, directamente, dos modelos de desenvolvimento económico de então, incompatíveis, nos nossos dias, com novas realidades que despontam em matéria de desenvolvimento turístico e de respeito pelo meio ambiente.
Hoje, embora o novo Parque Urbano de Albarquel seja já um importante contributo para abrir a frente ribeirinha aos cidadãos, continuam a existir vastas áreas em que o acesso ao mar ou é impossível ou bastante dificultado por variadíssimos obstáculos. O novo parque e o jardim da beira-mar continuam a ser os dois únicos pontos da cidade onde os setubalenses podem aproximar-se do seu Rio Azul numa lógica de lazer e prazer. É, pois, um imperativo alterar esta situação, em especial porque se sente com intensidade, medida pelo sucesso que o Parque urbano de Albarquel está a ter, a vontade dos setubalenses de viverem mais perto do rio e do mar.
A partir destas constatações, a Câmara Municipal de Setúbal lançou-se na procura de soluções para a abertura da frente marítima aos cidadãos e daí nasceu o Programa Integrado de Valorização da Zona Ribeirinha de Setúbal, um ambicioso projecto que poderá devolver aos setubalenses o mar e o rio que tanta importância têm nas nossas vidas. Para o Município de Setúbal, este instrumento de política representa uma oportunidade incontornável no esforço de (re)qualificação que tem vindo a ser desenvolvido na cidade ao longo dos últimos anos.
Estamos, pois, perante uma oportunidade para (re)desenhar uma estratégia concreta de actuação na Zona Ribeirinha, um dos principais ex-líbris da cidade com capacidade de projecção externa.
Este programa responde, também, à necessidade, sentida há muito, de dotar Setúbal de condições objectivas de diferenciação e qualificação urbana que sustentem a sua afirmação enquanto principal polaridade alternativa ao núcleo central da Área Metropolitana de Lisboa e ao imperativo de preparar esta área para acolher e beneficiar de um conjunto de novas solicitações que se associam ao desenvolvimento do pólo turístico correspondente ao Litoral Alentejano e, em particular, da península de Tróia, dada a situação de evidente proximidade e o papel de interface que certamente lhe competirá assegurar.
Acredito que, concretizado este ambicioso plano, além de termos cumprido um objectivo que há muito perseguimos, estaremos plenamente preparados para responder aos novos desafios que se colocam à nossa cidade e à nossa região.
Maria das Dores Meira – Presidente da Câmara Municipal