COMO PODEMOS REAGIR?

Mar 24, 2020

Neste tempo imprevisível com um vírus incontrolável a determinar os nossos procedimentos e as nossas vidas, distinguem-se algumas pessoas e poucas entidades que contribuem para responder a situações que nunca foram vividas.
Os lares de idosos tornaram-se um gravíssimo problema de saúde pública, na medida em que é inevitável a infecção de pessoas que se encontram ou trabalham nesses locais. Gravíssimos porque se conhecem as percentagens de óbitos na população com mais de 80 anos.
Os Directores Técnicos com competência e capacidade de liderança, dos lares de idosos vivem dois comportamentos diferentes: um, no qual não podem dramatizar a situação junto das pessoas idosas, porque a depressão e ansiedade dessas pessoas já é muito elevada e não deve ser aumentada. Outro, porque tem consciência da sua incapacidade de combater este cruel vírus e sabem que muitos dos seus residentes não vão sobreviver.
Vivem ainda um perfeito isolamento na maior parte dos casos, na medida em que os que ontem queriam mandar e sobrepor-se sobre eles, sem qualquer capacidade científica e técnica, fugiram e vão fugir ainda mais. Agora a responsabilidade total passou para os directores técnicos e para os enfermeiros. Durante o ano são os gerentes, os provedores, os presidentes das instituições que têm o mau procedimento de pensarem que sabem alguma coisa de idosos, de saúde e de lares.
É pois dramática a situação de directores técnicos de lares conscientes e competentes. Veem-se perante algo que não conseguem resolver, sabendo que é uma questão de dias até o “bicho” entrar no lar.
Pior é a falta de meios. Quando, durante anos, pediram mascaras, luvas, aventais, toucas, produtos desinfectantes cientificamente acreditados, formação para o pessoal e implementação de protocolos, os “donos” dos lares privados e sociais argumentavam sempre com a falta de dinheiro e a mania dos licenciados que pensam saber tudo.
Agora fugiram para casa e mandam mensagens a dizer para pedir esse material a empresas que não o tem e que nunca pensaram que esses lares os consumissem, não lhes podendo dar prioridade nos seus fornecimentos.

Mas é obrigatório lutar, É obrigatório distinguirem-se como directores técnicos mas acima de tudo como líderes de entidades e instituições para as quais trabalham.
Os problemas que estão diagnosticados são essencialmente:
1. Falta de recursos humanos pela incapacidade de saúde de alguns e pela Impossibilidade de sair de casa de muitos. As equipas estão reduzidas a menos de metade em centenas de situações e não se deve insistir nem um segundo para que uma trabalhadora mantenha o trabalho se tossiu, tem queixas de cansaço, teve um pouco de febre ou simplesmente tem que contactar na sua vida particular com espaços e/ou pessoas que podem ser consideradas portadores ou potenciais portadores. Requer-se pois um questionário individual muito rigoroso a cada um dos nossos trabalhadores para perceber o seu grau de risco e tentar diminui-lo ou atenuálo. Mais que isso deve-se reduzir as trocas de turnos e assim as entradas e saídas do Lar, conseguindo que a equipa entenda que neste momento não são simplesmente trabalhadores mas heróis nacionais dos quais se espera comportamentos patrióticos que devem ultrapassar as suas conveniências pessoais.
No fim faremos contas e julga-se que a disponibilidade, o sentido de responsabilidade e a solidariedade serão devidamente compensados. Assim os horários devem ser alterados e conseguir-se no mínimo uma única rendição de turno por dia, implementando turnos de 12 horas a render às 8 e às 20 horas, sendo que o ideal seria render uma única vez por dia com turnos de 24 horas quatro em quatro dias.

2. Falta de formação e actualmente de informação dos colaboradores. A informação tem sido muita mas não parece eficaz. Os colaboradores de lares de idosos não podem ser enganados e não se pode omitir informação que se conhece e já apresenta evidência científica. Tem que saber da inevitabilidade da entrada da infecção nos lares e tem que ter consciência de que metade da população que hoje cuidam tem uma enorme possibilidade de não resistir e falecer. E saber que contra isso há pouco ou nada a fazer, sendo que a atenuação desta situação é possível. Desde o final do ultimo anoque se sabe, em alguns países, que morreram muitas pessoas idosas infectadas em lares de idosos. Terão sido mesmo as primeiras vítimas. É por isso impensável dizer-se que vai tudo correr bem, se calhar vamos ter sorte, o vírus não entra aqui e outras frases que se vão ouvindo. Sendo assim é preciso saber como podemos atenuar esta situação. Desde logo formar a equipa para ter cuidados rigorosos na entrada no lar, despindo toda a sua roupa e especialmente resguardando os sapatos, na área que habitualmente tem para o fazer ou encontrando um gabinete para o fazer. Vestir roupa do lar, diariamente lavada, proteger-se com uma máscara, um avental e uma touca, desinfectar, após lavagem rigorosa, as mãos. Tocar no menor número de superfícies que seja possível. Falar com os residentes e colegas a distancia considerada
segura e evitar manifestações de toque. Andar com um spray carregado de líquido desinfectante pode ser boa ideia. Quando não há pode misturar água com sal e vinagre ou mesmo lixivia. Não esquecer de identificar todas as embalagens com o nome do conteúdo. Deve informar-se que existem perigos no exterior que podem envolver os seus familiares, tanto eles a infectarem como a serem infectados pelo que todos os cuidados, mesmo parecendo exagerados, nunca são demais.

3. Os residentes. Os residentes habitualmente ficam alheios a estas situações mais graves, defendendo através de ignorarem aquilo que lhes pode fazer pior. Dai ser difícil passar a mensagem porque quando dizemos a alguns que podem morrer, encontramos respostas como isso é que era bom e nunca mais acontece. Assim não parece existir nada de especial a introduzir na rotina normal a não ser tentar mantê-los mais afastados uns dos outros, se existirem condições fazê-los permanecer no exterior o tempo possível, introduzir higiene oral com bochechos com desinfectante pelo menos duas vezes ao dia. Arranjar spray onde se pode colocar desinfectante oral para fazer várias vezes ao dia. Aumentar a ingestão de água, muita água. Toda a equipa tem que ter os mesmos procedimentos e levar estas actividades a sério. Uma das responsabilidades é acompanhar de perto todos os residentes e verificar qualquer sinal de alerta: a tosse, queixas de constipação ou gripe, dor no peito, febre e mesmo mau estar abdominal e diarreia. Qualquer destas situações deve ser de imediato comunicada ao Director técnico, sem hesitações. Podemos introduzir um copo de vitamina C solúvel às refeições ou pelo menos uma vez por dia e reforçar, reforçar muito a mobilidade.
É um esforço maior mas que pode vir a ter resultados muito gratificantes. Nestas alturas é que as equipas e as pessoas se distinguem e ganham uma dimensão profissional diferente. Muita atenção à utilização e passagem de mão em mão de telemóveis ou telefones. Após utilização deve ser de imediato desinfectado. Também os teclados dos computadores, puxadores de portas, marcações de ponto digitais, etc., devem ser considerados veículos de transmissão, pela que a lavagem de mãos após a sua utilização é obrigatória.

4. Acessos. Os acessos ao lar já estão determinados, sendo proibida a entrada às visitas. Contudo existem outras pessoas que têm acesso ao lar como os fornecedores. Nestes casos deve evitar-se a sua entrada no espaço interior do lar, receber mercadorias e, de imediato, desinfectar com qualquer liquido que exista e com algumas propriedade de desinfectante, todos os materiais que trouxerem, caixas, equipamentos, pacotes de fraldas. Nada pode entrar no lar sem essa desinfecção, nem que tenha que ser desembalado. Deve também introduzir-se uma folha para registar
todas as entradas e saídas do lar, mesmo dos funcionários, sempre que exista esse movimento. Tal tem a ver com a possibilidade de, em caso de acontecimento critico, podermos estabelecer o momento e o contacto com agente potencialmente infectado ou transmissor. Esse registo deve incluir a data e a hora. Podemos autorizar a entrada de pessoas externas pontualmente desde que sejam utilizadas todas as medidas de protecção individual: lavar mãos, colocar mascara e touca, bata se possível e não utilizar calçado da rua. Todo o equipamento deve ser passado com líquido desinfectante e evitar proximidade e toque a pessoas do interior.

Outros problemas irão surgir com o desenvolvimento da situação e, a cada um deles, devemos responder com todo o nosso conhecimento, empenho e experiencia.
Esperemos que tudo corra bem

Ler mais